O
vinho do Porto perdeu 30% do negócio no Brasil em apenas dois anos, anunciou o “Jornal
de Negócios”, apontando como motivos barreiras alfandegárias e taxas elevadas. Mas
há outras razões. É trágico porque é uma queda que acontece num momento em que
os brasileiros despertam para o consumo de vinhos e têm uma oferta
internacional cada vez maior. E mesmo custando cinco vezes mais, em média, do
que em Portugal, os vinhos portugueses nem são particularmente dos mais caros
que podemos ver nas prateleiras dos supermercados brasileiros. A questão é que
não são os únicos vinhos do mercado. E até os bons vinhos franceses apostam em
comunicação, aparecendo no Brasil com rótulos em língua portuguesa.
Eu
acrescento outra razão para a tragédia: falta ao vinho do Porto uma política de
comunicação eficaz no Brasil. Em especial uma comunicação que vá ao encontro do
consumidor, despertando o seu interesse por um dos melhores vinhos do mundo. O
lado bom é que o presidente do Instituto do Vinho do Douro e do Porto, Manuel
de Novaes Cabral, com quem já tive o privilégio de falar sobre o assunto, sabe
disso.
Num
mundo global e competitivo, a comunicação é um elemento fundamental para que um
produto possa ir ao encontro dos consumidores, criando neles uma necessidade de
consumo. Comunicar com eficácia um vinho num determinado mercado estrangeiro é
dar a conhecer esse vinho, mas também a cultura que o envolve e os momentos que
convidam ao seu consumo, gerando, assim, envolvimento entre o produto e os
possíveis consumidores.
O
Vinho do Porto e a Região Demarcada do Douro – que é a região demarcada mais antiga
do mundo – reúnem condições para uma comunicação eficaz nos mercados
internacionais, que tenha em conta uma visão multidimensional da região e do
País, que contribua para o fortalecimento da imagem externa da região duriense,
para a captação de consumidores de vinho do Porto, para a atração de enoturistas,
assim como de novos investimentos e, por consequência, novas fontes de
rendimento para a região duriense, para a Área Metropolitana do Porto e para Portugal.
O
Turismo do Vinho é um segmento da atividade turística que se baseia na viagem
motivada pela apreciação do sabor e aroma dos vinhos, mas também nas tradições
e na cultura das localidades que produzem a bebida. Mais do que apenas
"beber" vinho, o enoturista aprecia paisagens, utiliza os
equipamentos de gastronomia, hotelaria e diversão, fomentando a economia,
designadamente o comércio local e outras prestações de serviços. Uma boa
comunicação de um produto com a singularidade do Vinho do Porto tem, portanto,
reflexos sobre a percepção pública que os “stakeholders” e os públicos externos
podem ter sobre o território produtor.
O
aumento do grau de conhecimento sobre o vinho do Porto é fundamental para fazer
aumentar o seu consumo no Brasil. No mercado brasileiro, aumentar o
conhecimento sobre o vinho do Porto implica ensinar a história, a forma como se
bebe, como se aprecia e combina com os diversos tipos de comida. Os vinhos do
Porto e do Douro possuem uma multiplicidade de características e de produtos
diferenciados que se adequam a muitos momentos de consumo, dos mais solenes aos
mais descontraídos, a climas mais quentes ou mais frios – e o mercado
brasileiro precisa de ter acesso a esse conhecimento, para saber distinguir
entre um vinho do Porto e um vinho argentino, chileno ou francês.
Um
bom vinho depende, antes de mais, do território onde é produzido. É por isso
que não existe Vinho do Porto que não seja produzido na Região Demarcada do
Douro. Por isso, a sua comunicação agrega valor ao produto se tiver em conta
não só o vinho, mas também as potencialidades ambientais, turísticas, culturais
e económicas da Região Demarcada do Douro. É esse conhecimento que se traduz em
percepções positivas junto dos potenciais consumidores que, por sua vez,
potenciam o consumo do vinho e, eventualmente, o incremento do turismo e da
economia da região produtora do vinho. Neste processo, que é dinâmico, são captados
novos consumidores de vinho e novos turistas, enquanto outros se fidelizam.
A
rede de hotéis, o Museu do Douro, os passeios de barco no Douro, as quintas e
adegas, a gastronomia da região, o comboio histórico, as caves do vinho do
Porto, a cultura e as tradições, os centros históricos do Porto e Vila Nova de Gaia,
etecetera, são elementos cuja comunicação integrada é susceptível de aumentar nos públicos
brasileiros o interesse pelo conhecimento do Norte de Portugal. O que, por
consequência, aumenta o interesse e o conhecimento sobre o Vinho do Porto e o
seu consumo.
Através
da Internet, com uma linguagem adaptada à cultura brasileira, a comunicação
pode levar vinho do Porto diretamente aos consumidores brasileiros. Só assim
será possível evitar a queda nas vendas e inverter a tendência, para bem da economia portuguesa. E num negócio que, neste momento, vale
3,8 milhões de euros anuais (valor das exportações de vinho do Porto e do Douro para o Brasil em 2013), iria valer a pena o investimento.
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