Muito se tem escrito sobre o papel dos
agentes de relações públicas no espaço público mediático – profissionais da
comunicação que, ao serviço de uma instituição, empresa, organismo ou até
pessoas, são, muitas vezes, acusados de “envenenar” os verdadeiros jornalistas, “vendendo-lhes” notícias
ou informações que estes últimos não deveriam “comprar”... Verdade? Mentira? Se calhar as duas coisas, pois
tudo deve começar no respeito com que uns e outros devem relacionar-se...
Comecemos então. Um agente de relações
públicas (RP) pode e deve assumir-se como um informador privilegiado dos
jornalistas. Deve ter conhecimento profundo da matéria cuja divulgação
pretende, assumindo naturalmente que esse facto não lhe dá o direito de exigir qualquer
publicação ou simples divulgação. Por outro lado, o jornalista ao receber
informações, documentação, etc., do profissional de RP, não deve nem está a
assumir qualquer compromisso em termos de divulgação do conteúdo dessas mesmas
informações.
Tudo se pode passar, ao fim e ao cabo, como
se uma fronteira invisível atravessasse, embora dividindo, um terreno comum a
estes dois profissionais. De um lado o agente de RP, que ao ter conhecimento
dos princípios de independência, rigor e objetividade que regem a atividade
jornalística, não deve pressionar o jornalista, forçando ou simplesmente
sugerindo qualquer publicação.
Do outro, o jornalista, que jamais se deve
sentir comprometido por aceitar documentação ou informações, antes
reservando-se o direito de as analisar, trabalhar e incluir ou não no seu
trabalho final. Que o RP não se sinta melindrado se o jornalista não
aproveitar, ou aproveitar pouco o seu material. Que o jornalista não se sinta, “culpado”
por exercer as suas opções editoriais chegando à situação limite de recusar a
divulgação ou publicação de qualquer matéria.
Qual então o terreno comum aos dois grupos? A
informação trabalhada e preparada por um para servir a função do outro?
Provavelmente, e uma vez mais se afirma, no total respeito pelas competências e
prerrogativas de ambos.
O agente de RP tem, assim, a responsabilidade
de produzir ou preparar uma informação que, destinando-se a ser fornecida ao
jornalista, jamais poderá conter erros, mentiras, inverdades ou simplesmente
ser falaciosa, por assumir dedutivamente algo não provado.
Embora podendo considerar o profissional de RP
como uma fonte de informação fidedigna, o jornalista jamais deve assumir como
inquestionável o material informativo que recebe das suas mãos. Por outras
palavras, a matéria informativa recebida pelo jornalista pode, e se calhar
deve, ser confirmada junto de outras fontes estranhas ao primeiro “informador”.
O jornalista pode, assim, encarar o agente de
RP como um precioso auxiliar no processo da obtenção da informação. Pode e
deve, porque essas são as suas funções, questionar essa mesma informação,
procurando complementá-la junto de outras fontes.
O profissional de RP – ou assessor de
comunicação – não pode nem deve alimentar expectativas de que a sua informação
vá ser aproveitada em todo ou em parte pelo jornalista na sua peça. Mas pode
ter fundadas esperanças de que quanto mais correta, factual e organizada
estiver a informação que fornece ao jornalista, maiores serão naturalmente as
possibilidades dessa mesma informação ser difundida pelo jornalista.
Há em todo este processo um risco que não
deve ser escamoteado. O agente de RP serve os múltiplos interesses da entidade
que o contratou, e é evidente que o seu trabalho reflete esses mesmos
interesses. Ao contrário, o jornalista norteia a sua ação, orientando-a em
função do interesse público, ou quando muito no interesse do público. Estes
interesses podem entrar em choque, e às vezes dar origem a equívocos que os
intervenientes devem ser capazes de amenizar.
É assim frequente encontrarmos relações
públicas que entendendo a especificidade do trabalho dos jornalistas,
limitam-se não apenas ao papel de fornecedores de informação, mas sobretudo à
organização segundo critérios jornalísticos dessa mesma informação.
Trabalhando a montante do jornalista, o agente
de RP dá-lhe a total liberdade de escolha da informação a publicar, devendo
aceitar implicitamente os resultados dessa escolha. Funcionando o jornalista a
jusante do relações públicas, as suas opções editoriais, acabam por ter em
conta os seus destinatários: o grande público consumidor do seu trabalho
jornalístico.
Pedro Luiz de Castro,
jornalista
e professor
universitário
::
Texto inédito
enviado pelo autor
Pedro Luiz de Castro,
jornalista
e professor
universitário
::
Texto inédito
enviado pelo autor