segunda-feira, 18 de julho de 2011

O poder dos leitores


Durante anos, os tablóides ingleses fizeram as delícias do público. Apesar das mais flagrantes violações dos mais elementares direitos, os jornais foram alimentando os seus milhares de leitores, que se deleitavam com a publicação das mais escabrosas peças ditas jornalísticas sobre o mundo dos famosos, políticos e afins. Por sua vez, o público retribuía-lhes com audiências. E foi ao abrigo deste contrato, cujo fiador era o princípio da liberdade de expressão, que o negócio floresceu, independentemente dos meios utilizados.
O caso, além das discussões dentro da classe jornalística e dos poderes de um Estado, deve merecer, sobretudo, uma reflexão dos leitores. São estes que suportam os negócios. Quanto mais lixo comprarem, mais será produzido. Estarão dispostos a continuar a financiar um jornalismo que não respeita regras, direitos e o mínimo de bom senso e que a tudo recorre só para revelar quem é a amante do jogador de futebol “A” ou qual a doença que afecta o filho do primeiro-ministro “Y”? Há que fazer escolhas.
Mas como tudo o que tem um princípio tem um fim, o “News of The World” acabou e a sua antiga directora, Rebekah Brooks, foi detida pela polícia. A mesma polícia que também terá beneficiado de um esquema de favores para dar informações. Pode ser que o caso das escutas em Inglaterra sirva para, de alguma forma, higienizar o jornalismo. E higienizar não quer dizer domesticar. Não. É possível fazer jornalismo sério, acutilante e vigilante dos poderes públicos e privados, sem necessidade de ultrapassar os mais elementares princípios de uma sociedade moderna e democrática.

[FONTE: Editorial do “Diário de Notícias”, 18-07-2011]

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