quarta-feira, 27 de abril de 2011

Cavaco Silva e o Facebook


A guerrilha política, mesmo de segunda linha, também se faz no Facebook. Para os jornais tradicionais, ainda é uma novidade. Daí que o desabafo mais desbocado seja facilmente elevado à condição de notícia digna de jornal. O socialista José Lello usou a sua página no Facebook para chamar “foleiro” ao Presidente da República, Cavaco Silva. António Nogueira Leite, conselheiro nacional do PSD, respondeu, considerando Lello um “ciber-nabo”. É que o dirigente socialista confessara que a mensagem contra Cavaco não seria para tornar pública
O certo é que a polémica saltou das páginas do Facebook para os meios de comunicação tradicionais. Estamos num tempo ainda de transição, mas em que cada cidadão já não precisa de esperar pelo papel mediador dos meios de comunicação tradicionais para tornar pública sua voz, tenha ou não tenha interesse público. Em virtude das grandes mudanças tecnológicas, políticos, instituições, empresas ou cidadãos anónimos transformaram-se em agentes activos da produção informativa e opinativa.
Donde, o facto de Cavaco Silva comunicar através do Facebook, onde tem mais de 78 mil seguidores, não é de estranhar. A comunicação pelo Facebook – ainda que não tenha nada a ver com a natureza austera da personalidade do Presidente – também é criticada porque, dessa forma, os meios de comunicação tradicionais perdem a liderança e o exclusivo na transmissão da mensagem e, portanto, perdem o seu poder de mediação, neste caso entre o agente político Cavaco Silva e a população. É também esta disseminação dos agentes de difusão de notícias e opiniões – uma das grandes revoluções do nosso tempo – que está a baralhar o jornalismo tradicional.
Cavaco Silva foi, aliás, um dos primeiros responsáveis políticos em Portugal a usar as redes sociais para comunicar com o exterior, nomeadamente o Twitter. E comunicar pelo Facebook é a mesma coisa que comunicar pela rádio, pela televisão ou pela imprensa. Dirão que nem todos têm Facebook, ou, tendo Facebook, não seguem Cavaco Silva. Pois não. Assim como nem todos vêem televisão, nem todos ouvem rádio, nem todos lêem jornais.
A questão é que, mesmo comunicando pelo Facebook, Cavaco Silva consegue levar a sua mensagem a todos os meios de comunicação. Porque, neste caso, o que é importante e decisivo não é o meio. O importante e decisivo é a mensagem. A mensagem do Presidente.
Isto não quer dizer, porém, que a situação de grave crise económica, social e política em que Portugal está mergulhado não devesse ter levado Cavaco Silva a utilizar outros meios, outra densidade na mensagem e outro tempo para falar ao País. Porque, para um Presidente da República de Portugal, cujos poderes são limitados, a palavra é talvez a sua arma mais importante. E a verdade é que, nestes tempos de grandes dúvidas e incertezas, a palavra de Belém não tem sido o bálsamo de que os portugueses estão a precisar. Mas isso é outra questão.

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